Tem conversas de bar que equivalem a uma sessão da mais avançada das psicoterapias. Só é necessário estar atento e, claro, lembrar depois
A conversa ia para todo lado feito pipa voada, como é de bom-tom numa mesa de bar. A tentativa de golpe, um restaurante novo na Gávea, a guerra da Ucrânia, uma novidade nas tretas entre Scooby e Luana Piovani. Era o boteco na sua melhor versão. Devo deixar claro: por tantas referências ao bar da esquina o leitor pode achar que sou um cronista inflamável, de chope na mão e equilíbrio precário. É o contrário: não bebo. Não que isso seja razão de orgulho, é mais motivo de vergonha, um constrangimento para os outros frequentadores do Rebouças. Fazer o quê? Ao menos tem um lado bom: no dia seguinte ainda lembro do que aconteceu. Se a conversa tiver sido boa, dá até para escrever uma crônica sobre o que foi dito.
Um conhecido fala de outro, recém-separado. Diz que não sai mais de casa. Fica vendo “Friends” e “Seinfeld” na sala e ouvindo “o verdadeiro rock’n’roll” no quarto. “Homem hétero, né? Não tem jeito...”, interrompe uma voz feminina, com a certeza de quem já viu o filme algumas vezes. Ela continua. “Com o meu pai, por exemplo, acontece a mesma coisa: depois de alguns casamentos ficou solitário. Sempre adotou as amizades da mulher e cada vez que se separava, perdia, além da companheira, os amigos. Os dele mesmo, os originais, foi deixando pelo caminho: não procurava, não ligava, não saía para encontrar. Agora que está ficando velho, é